15 de novembro de 2010

Mensagem de um grande amigo.

Bia, gostaria muito de te contar sobre as experiências que pude ter nesta viagem para a Patagônia e Terra do Fogo.

OK! Paisagens deslumbrantes, lugares que sempre quis visitar, comidas típicas locais (até me arrependi da tripa e do testículo, argh!), museus e muita história.

O mais importante foi o que você me disse para fazer na viagem, me reencontrar e me conhecer.

Como não tinha quase nada de coisa para pensar, pude refletir bastante e fazer uma auto análise do meu passado, que motivos me levaram a tomar certas atitudes e prioridades na vida.

Escuta essa:

A região de Ushuaia foi um lugar praticamente colonizado por presos. O governo argentino queria ocupar aquela região, mas era muito inóspita, então, mandaram presos para lá, que fizeram o presídio, as estradas, e fizeram uma linha de trem que interligava o povoado à floresta, aonde ia se buscar a madeira para a calefação.

Fiz o passeio deste trem, o “Trem do Fim do Mundo”, não sabia o porque, mas enquanto o trem andava , histórias destes presos eram contadas. Sentia que estas histórias me emocionavam muito, porém, não sentia a mesma reação dos demais ocupantes do meu vagão, que pareciam indiferentes. Pô, como pode uma história tão triste e ao mesmo tempo tão bonita não despertar a mínima atenção dessas pessoas?

À tarde, estava chovendo e não peguei o barco para os pinguins, e fui visitar o museu da cidade, que fica no antigo presídio. Legal, interessante, mas era muito grande e cansativo.

Chegou num setor, que eram as antigas celas, sem reformas, feio, sem calefação, frias, solitárias, sem nenhum visitante. Sensação terrível de medo.

Entrei numa das celas, me sentei um pouco, fiquei encolhido por causa do frio e com medo de que as portas se trancassem e me deixassem lá!

Veio à minha mente a imagem de um menino de uns 08 – 09 anos sentado debaixo de uma mesa (naquela parte aonde a gente poe os pés enquanto estamos sentados na cadeira), todo encolhido, com muito medo de tudo, da chuva, dos trovões, do frio, de ser expulso de casa, das brigas dos pais, da fome, de ser abandonado.

Sim, este menino era eu.

Tinha esquecido desta imagem há muito, muito tempo atrás.

Quando tinha briga ou problemas em casa, que era bem freqüente, normalmente por falta de dinheiro, que gerava as brigas por outros motivos, era lá que eu me refugiava, no escuro, encolhido, com frio e muito medo, e ficava planejando como podia resolver aquilo tudo. Mas eu era uma criança ainda, pequeno, fraco e pobre. E esse tipo de problema só tinha como resolver quando eu crescesse, já como adulto. Então, eu tinha que “crescer” e ficar adulto o mais rápido possível.

Sempre me perguntaram de onde eu tirava motivação e forças para fazer um monte de coisas. Nunca soube responder.

Sempre achei que era por ser uma pessoa determinada. Errado. Era para que não fosse mais necessário me esconder debaixo dessa escrivaninha.

Hoje percebo o motivo dos inúmeros sacrifícios pessoais pelo sucesso profissional (em resumo, pelo dinheiro), visando ajudar a minha família, as pessoas próximas a mim e até a diversas pessoas que mal conhecia ou não conhecia foi fruto de um trauma de infância.

Quando estava fazendo trekking em El Chalten, resolvi subir a montanha sozinho. No mirante ao Fitz Roy, me sentei.

Muito frio, começando a nevar e chover, solidão completa. Não sentia medo, apenas uma sensação de “estou livre”, de que tenho uma vida a ser vivida, sem fantasmas do passado.

Levo muito aprendizado desse período.

Quando vejo meus sobrinhos e várias crianças da creche de Guarulhos brincando, sorrindo, sendo “crianças”, acredito mais na escolha que fiz para agora, priorizando mais a parte pessoal, tentar ser um bom marido e pai (pelo menos o melhor que puder ser, isso se eu conseguir casar e ter filhos), deixando para as crianças serem crianças e os pais os problemas dos adultos.

Agradeço ao Ser (Deus, Alá, Buda, ...) pelas coisas boas em meu caminho durante as dificuldades e aos que me ajudaram, pois sei que qualquer retribuição que fiz e farei sempre foi e será muito pouco comparado com a grandeza das atitudes.


Bia, tinha que te contar esta história, pois uma das pessoas mais importantes em me tirar de debaixo daquela escrivaninha foi você. Muito obrigado.

Muito obrigado por ter aparecido e ter feito parte de minha vida.



Emocionante não?

Eu chorei.

Pra guardar no coração.


=)

=)



6 de novembro de 2010

E de repente você olha ao seu redor, os acontecimentos a gritar, as pessoas a fazer coisas insanas, incoerentes, as coisas a se perder, os pensamentos embolando-se em si próprios, as necessidades cada vez mais pendentes, aos que amamos a ausência, o curso de mergulho adiado, o curso de fotografia sem previsão, cada vez menos horas de sono, cada vez mais ingere-se o indesejado, inclusive sapos...
E então surge imensa vontade de pedir: Alguém me tire daquiiiiiiii?!

Sim, minhas férias estão vencidas e já começo a cansar de brincar de ser adulta; quero minha barbie de volta!

Incrível como uma pausa pode significar tanto em nosso olhar para a vida, em como produz tolerância.
Tenho um amigo, que ficou 15 anos sem férias, admiro-o.
De onde tirava forças? De onde surgia a motivação que o fazia levantar toda manhã? Se reconhecia?
Se amava?
Amava?
Vivia? Desejava? Respirava? Observava-se?
Admiro-o.

Eu, em 1 ano e 3 meses já estou a desintegrar-me.

=p