Sou do tipo ouvinte.
E em minhas andanças, no metrô, no ônibus, no avião, no trabalho, entre amigos, na familia, na padaria, na fila do banco, por todos os lados, tenho ouvido.
Foi então que senti urgência em afirmar, aí está um tema universal, um tema de interesse a todos: relacionamentos.
E por mais que isso pareça evidente, por sermos seres sociais, dependentes da interação social até mesmo para a própria sobrevivência, o que intriga é que em tempos de individualidade absoluta, e em nome dela, tenhamos desaprendido a conviver, desaprendemos a nos relacionar.
No metrô, uma senhora, de uns oitenta anos, acredito eu, me fez tirar os fones de ouvido, e disse: - Você não acha minha filha um absurdo tão grande sentar-se ao meu lado nesta viagem e trocarmos somente um bom dia?
Evidentemente, e prazeirosamente fui conversando com Dna. Laura até a estação Clínicas, onde desembarcou, deixando um rastro de questionamentos e incompreensão.
Desaprendemos a ter prazer pela compania, pelo bom papo, desaprendemos a amar, desaprendemos rir do outro, de si mesmo, desaprendemos a fazer o bem incondicionalmente, tanto que quando o fazemos parecemos anormais, dedicados demais, desaprendemos a dar carinho, desaprendemos a respeitar a natureza e os animais, desaprendemos a medida do que necessitamos, e quase sempre temos muito mais, desaprendemos a pensar a vida como uma grande oportunidade de fazer amigos, de ouvir o que o outro tem a dizer, porque deveria, não é, se enquanto ouço, deixo de fazer por mim, desaprendemos a não julgar, desaprendemos a agradecer, desaprendemos a arte de usar as palavras, comunicação, e por isso, passamos a maior parte do tempo supondo, criando significados para as atitudes alheias, para as mensagens abreviadas.
Curioso.ESTAR humano, não é, de fato legal nessas condições.
Dor, medo, insegurança, egoísmo, raiva, ódio, prepotência, arrogância...
E assim é.
Minha sugestão?
Bem, sou apenas alguém que busca manter o coração livre dessa sequência ilógica de predicados, mas acho que se começarmos por parte, por aquela parte que nos pertence, digo, a qual o amor nos pertence, familia, amigos, colegas, pessoas que vemos diariamente, se nos dedicarmos a ouvir, a dar a mão, a sorrir, a brincar, a quebrar o gelo, talvez, assim, possamos abrir espaço para uma nova vida.
É um exercício constante e belo.
Um grande beijo a sábia Dna Laura, que fez meu dia muito mais interessante, muito mais SER humano.